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23 de abr. de 2012

Impressões sobre o Mercado Persa 2012


Nos dias 13, 14 e 15/04 tivemos aqui na cidade de São Paulo/Brasil, o maior festival de danças árabes da América Latina, o Mercado Persa, idealizado pela mestra Samira e organizado por Shalimar Mattar, este festival que começou pequeno e há 14 anos atrás atinge hoje uma dimensão gigantesca e alcança milhares de pessoas entre as que o acompanham fisicamente e também através das redes sociais, youtube, blogs e etc.

Neste ano não consegui participar do festival por razões diversas e pessoais, mas não pude deixar de dar uma “escapadinha” e prestigiar o evento na sexta e no sábado. Assisti algumas apresentações, acompanhei alguns concursos e presenciei algumas situações e no final das contas, também é legal ver “de fora” pois pude avaliar tudo por um outro olhar.

Foi muito prazeroso assistir o show de abertura na sexta-feira a noite, no qual o tema foi a história da dança do ventre no Brasil. Senti uma emoção muito forte em reviver momentos que fizeram parte da minha vida, a reprodução de uma “taverna” onde tinham apresentações de bailarinas relembraram a minha infância nos restaurantes e festas gregas e árabes, quando ninguém achava estranho colocar uma bailarina em cima da mesa e presenteá-la com dinheiro. Rever também as primeiras gerações de bailarinas da Khan El Khalili, como Aisha Almee e Munira Magharib no palco, com modelitos “a moda antiga” e dançando “a moda antiga” também me emocionaram e me relembraram meus momentos frequentando a Casa de Chá e depois as primeiras versões das Noites no Harém. Rever Cláudia Cenci no palco também foi maravilhoso, relembrei da época do Clone e toda loucura que vivemos nesta fase com milhares de apresentações por dia, dançando de um tudo para todos.

Muitas coisas lindas e interessantes fizeram minhas pupilas brilharem. Assistir Saida dançar ao vivo é avassalador, a energia da Samira e o sorriso da Shalimar são sempre contagiantes, e não poderia deixar de citar a linda apresentação de dabke que Anthar Lacerda me proporcionou, um colírio!

A quantidade de roupas lindas nos palcos, nos desfiles, à venda nas barracas, uma incrível variedade de assessórios também fazem do evento um sucesso. Fiquei realmente feliz em perceber a volta dos figurinos de dança do ventre num estilo mais tradicional, bem como deste resgate em muitas das apresentações e resultados de concursos.

A culinária também não deixa a desejar, um falafel para árabe nenhum botar defeito me deu energia para um dia inteiro. E sem contar o prazer de reencontrar pessoas queridas, conhecer profissionais diferentes e ver como cresceu o número de praticantes da nossa tão amada dança do ventre.

Entretanto, algo me incomodou e me deixou muito chateada e me senti na obrigação de dizer. Mesmo com toda a acessibilidade à informação que as pessoas tem hoje em dia a respeito das danças orientais, a quantidade de grupos que distorceram tradições e folclores foi decepcionante. Alguns grupos não tem a mínima noção do que é uma dança folclórica e do que não é, da questão dos trajes, das músicas, dos movimentos e passos. Neste ponto, gostaria de deixar um alerta aos grupos que se inscrevem como folclóricos. Estudem, pesquisem, façam aulas com quem entende, leiam o regulamento do festival, e só depois concebam um trabalho para apresentar. É preciso ter um pouco de respeito com o público, seja este leigo ou não.
Veja bem, o leigo assumirá como verdade a sua proposta, e o não leigo se sentirá ultrajado e agredido (foi como me senti), não é o que você quer né!
Um bom começo é a definição de folclore pelo Aurélio (dicionário) – folclore é o conjunto de poemas, canções, danças, tradições e lendas de uma determinada região.
Outro conceito primordial é o de que estas danças geralmente nascem de situações do cotidiano, são uma manifestação do comportamento cultural, histórico e social dos indivíduos e expressam uma tradição viva e popular.
É claro que quando levamos um folclore para o palco estamos adaptando a tradição para um espaço cênico, mas há de se ter muito cuidado para não distorcer ou ridicularizar. Sinceramente achei que o Brasil já tinha superado isto, daí fiquei realmente triste.

Outra questão que me deixou chateada foi a falta de educação do público. Precisamos sempre respeitar o artista que está no palco e também àqueles que o estão prestigiando. Não é elegante passar na frente, falar alto ou atrapalhar a quem esta assistindo. O mínimo é esperar o pequeno intervalo entre uma dança e outra para passar, afinal, não é tanto tempo assim né!

De qualquer forma, é sempre bom presenciar um evento como este com a cara do Brasil, pois o que eu mais admiro no Mercado Persa é a liberdade de expressão do artista. Ou seja, só não dança quem não quer, pois são muitas as categorias, e para quem não quer concorrer, há sempre a possibilidade de participar das mostras, tem espaço para todos! E podem já reservar o meu, pois em 2013 estarei lá, eu e a Pandora Cia de Danças!!

Apreciem a linda apresentação da vencedora do concurso Solo Profissional Star
Dança do Ventre clássica, impecável, sem invencionices!




Bjsssss
Cristina Antoniadis