Nos dias 13, 14 e 15/04 tivemos aqui na cidade de
São Paulo/Brasil, o maior festival de danças árabes da América Latina, o
Mercado Persa, idealizado pela mestra Samira e organizado por Shalimar Mattar,
este festival que começou pequeno e há 14 anos atrás atinge hoje uma dimensão
gigantesca e alcança milhares de pessoas entre as que o acompanham fisicamente
e também através das redes sociais, youtube, blogs e etc.
Neste ano não consegui participar do festival por
razões diversas e pessoais, mas não pude deixar de dar uma “escapadinha” e
prestigiar o evento na sexta e no sábado. Assisti algumas apresentações,
acompanhei alguns concursos e presenciei algumas situações e no final das
contas, também é legal ver “de fora” pois pude avaliar tudo por um outro olhar.
Foi muito prazeroso assistir o show de abertura na
sexta-feira a noite, no qual o tema foi a história da dança do ventre no
Brasil. Senti uma emoção muito forte em reviver momentos que fizeram parte da
minha vida, a reprodução de uma “taverna” onde tinham apresentações de
bailarinas relembraram a minha infância nos restaurantes e festas gregas e
árabes, quando ninguém achava estranho colocar uma bailarina em cima da mesa e
presenteá-la com dinheiro. Rever também as primeiras gerações de bailarinas da
Khan El Khalili, como Aisha Almee e Munira Magharib no palco, com modelitos “a
moda antiga” e dançando “a moda antiga” também me emocionaram e me relembraram
meus momentos frequentando a Casa de Chá e depois as primeiras versões das
Noites no Harém. Rever Cláudia Cenci no palco também foi maravilhoso, relembrei
da época do Clone e toda loucura que vivemos nesta fase com milhares de
apresentações por dia, dançando de um tudo para todos.
Muitas coisas lindas e interessantes fizeram minhas
pupilas brilharem. Assistir Saida dançar ao vivo é avassalador, a energia da
Samira e o sorriso da Shalimar são sempre contagiantes, e não poderia deixar de
citar a linda apresentação de dabke que Anthar Lacerda me proporcionou, um
colírio!
A quantidade de roupas lindas nos palcos, nos
desfiles, à venda nas barracas, uma incrível variedade de assessórios também
fazem do evento um sucesso. Fiquei realmente feliz em perceber a volta dos
figurinos de dança do ventre num estilo mais tradicional, bem como deste
resgate em muitas das apresentações e resultados de concursos.
A culinária também não deixa a desejar, um falafel
para árabe nenhum botar defeito me deu energia para um dia inteiro. E sem
contar o prazer de reencontrar pessoas queridas, conhecer profissionais
diferentes e ver como cresceu o número de praticantes da nossa tão amada dança
do ventre.
Entretanto, algo me incomodou e me deixou muito
chateada e me senti na obrigação de dizer. Mesmo com toda a acessibilidade à
informação que as pessoas tem hoje em dia a respeito das danças orientais, a
quantidade de grupos que distorceram tradições e folclores foi decepcionante.
Alguns grupos não tem a mínima noção do que é uma dança folclórica e do que não
é, da questão dos trajes, das músicas, dos movimentos e passos. Neste ponto,
gostaria de deixar um alerta aos grupos que se inscrevem como folclóricos.
Estudem, pesquisem, façam aulas com quem entende, leiam o regulamento do
festival, e só depois concebam um trabalho para apresentar. É preciso ter um
pouco de respeito com o público, seja este leigo ou não.
Veja bem, o leigo assumirá como verdade a sua
proposta, e o não leigo se sentirá ultrajado e agredido (foi como me senti),
não é o que você quer né!
Um bom começo é a definição de folclore pelo
Aurélio (dicionário) – folclore é o conjunto de poemas, canções, danças,
tradições e lendas de uma determinada região.
Outro conceito primordial é o de que estas danças
geralmente nascem de situações do cotidiano, são uma manifestação do
comportamento cultural, histórico e social dos indivíduos e expressam uma
tradição viva e popular.
É claro que quando levamos um folclore para o palco
estamos adaptando a tradição para um espaço cênico, mas há de se ter muito
cuidado para não distorcer ou ridicularizar. Sinceramente achei que o Brasil já
tinha superado isto, daí fiquei realmente triste.
Outra questão que me deixou chateada foi a falta de
educação do público. Precisamos sempre respeitar o artista que está no palco e
também àqueles que o estão prestigiando. Não é elegante passar na frente, falar
alto ou atrapalhar a quem esta assistindo. O mínimo é esperar o pequeno
intervalo entre uma dança e outra para passar, afinal, não é tanto tempo assim
né!
De qualquer forma, é sempre bom presenciar um
evento como este com a cara do Brasil, pois o que eu mais admiro no Mercado
Persa é a liberdade de expressão do artista. Ou seja, só não dança quem não
quer, pois são muitas as categorias, e para quem não quer concorrer, há sempre
a possibilidade de participar das mostras, tem espaço para todos! E podem já
reservar o meu, pois em 2013 estarei lá, eu e a Pandora Cia de Danças!!
Apreciem a linda apresentação da vencedora do concurso Solo Profissional Star
Dança do Ventre clássica, impecável, sem invencionices!
Bjsssss
Cristina Antoniadis