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3 de jun. de 2009

A Dança do Ventre e seus Estilos

Não temos muitos registros históricos sobre a dança do ventre, mas uma coisa é fato e indiscutível, é uma dança de essência feminina e muito antiga, e claro, devido a esta última característica passou por inúmeras transformações.

Venho há muito tempo sentindo uma grande necessidade de abordar esse assunto, isso porque observo muitas profissionais da área, tanto no Brasil como no exterior, usarem nomenclaturas e rótulos para classificarem sua dança como sendo melhor. É comum depararmos com frases tipo “a verdadeira”, “autêntica”, “pura”, “original”...

Antes de escrever qualquer coisa quero deixar bem claro que só existem dois tipos de dança do ventre: a boa e a ruim. E não precisa ser nenhum expert no assunto para saber diferenciar.

Dança ruim não falta, mas ainda bem que temos muita dança boa!!

Pra mim, dança ruim é aquela fora do ritmo e da música, sem sentimento, sem personalidade, fora do contexto.

E dança boa, ao contrário do que tenho observado neste meio, NÃO É conseguir fazer movimentos “cabeludos” e dificílimos, e sim tornar sua dança juntamente com a música uma só coisa, dançar com expressão, vida, paixão, delicadeza e todas as suas emoções, é conseguir tocar no outro e dar o seu melhor. A técnica e elaboração dos movimentos são importantes sim e enriquecem a dança, mas somente isso não basta!! Num outro momento quero falar mais sobre isso.

Mas voltando ao assunto dos estilos, acho muito necessário colocar alguns pontos nos is. E antes que alguém pergunte, quem é ela para fazer isso, quero dizer que não sou ninguém, não tenho selo disso ou daquilo, não ganhei nenhum concurso e não fiz aula com nenhuma estrela da dança do ventre, não sou formada em ballet clássico, nem moderno e nem jazz e nunca fiz nenhum curso de dança ocidental, não tenho nada contra quem fez tudo isso e quem sabe um dia eu faça também, mas até este momento não fiz. Aprendi meus primeiros passos nas festas e reuniões familiares e da colônia grega e árabe, aprendi com minha mãe, minhas tias, participei de uma porção de grupos folclóricos, ouço música oriental desde que nasci, e só muuuuuito depois, quando eu já tinha 18 anos fui estudar especificamente a Dança do Ventre.

Dito isto, permito-me dizer que a dança do ventre hoje, tanto no Brasil como em outros lugares do mundo, inclusive no Oriente Médio, possui muita influência do ballet e do jazz, e inclusive que no Brasil parece que adquiriu um estilo próprio, muito bonito e admirado, mas longe de ser o tradicional como muitas afirmam com convicção.

O que é então Dança do Ventre tradicional?

Na minha opinião é aquela que minha mãe dança, instintivamente, tendo aprendido com seus familiares que aprenderam com os deles e assim foi. É uma dança de raiz, assim como a menina do subúrbio do Rio dança um samba delicioso sem condicionamentos. Minha mãe nunca vai sambar daquele jeito e a menina nunca vai dançar o que minha mãe dança. É algo não só cultural, mas meio que genético e muito diferente da Dança do Ventre que assisto nos shows e festivais. Em hipótese nenhuma estou dizendo aqui que uma dança é melhor ou pior, muito pelo contrário, a dança tradicional é mais simples, não tem grandes deslocamentos e giros, os braços são mais soltos, a linhas menos harmônicas, mas o “swing” é diferente, é muito difícil explicar sem mostrar.

Sem contar os novos estilos que estão surgindo a cada dia, “Tribal, Fusion e etc”, eu classifico a Dança do Ventre basicamente em:
Dança do Ventre tradicional – que eu já dei uma explicada
Dança do Ventre Clássica Oriental
Dança do Ventre Clássica Ocidental
Dança do Ventre Moderna
Dança do Ventre Criativa ou Livre

O que diferencia um estilo do outro não é somente a música ou os trajes (este último é o que tem menos importância), mas sim os movimentos utilizados, a postura, a leitura musical, a interpretação dos ritmos, maqans e taksins, a forma como são feitos os deslocamentos entre muitos outros aspectos.

Quero encerrar dizendo que a Dança do Ventre é uma arte, e toda arte tem que evoluir e transpor os padrões e condicionamentos, entretanto não podemos esquecer de que esta dança é uma arte que pertence a uma cultura, e que não temos o direito de distorcer, depreciar, ridicularizar, vulgarizar ou descaracterizar esta cultura tão antiga e que muito colaborou com a nossa evolução como seres humanos.

Estou elaborando uma palestra para explicar melhor este assunto, quero muito fazer isso gratuitamente, quero poder plantar essa pequena semente com esperança que ela dê bons frutos, caso você tenha interesse no assunto, peço que entre em contato comigo!!
bjssssss

6 de abr. de 2009

Árabes e Gregos - A semelhança não é mera coincidência

Escolhi este assunto para minha primeira postagem neste blog pois acredito que há uma grande confusão conceitual de “quem é quem”. Algumas pessoas podem ler meus textos e questionarem porque eu não diferencio em alguns aspectos os gregos dos árabes.

Em primeiro lugar precisamos entender quem são os árabes e diferenciá-los. É um erro generalizar um mundo que vai desde o Marrocos até o norte da Índia como sendo uma coisa só. Cada região pertencente a este mundo tem uma característica singular, uma culinária própria, alguns dialetos, costumes e tradições diferentes. O que os une então!!!
Eu poderia dizer que em primeiro lugar a língua árabe, mas não podemos esquecer que no Irã se fala o persa, e particularmente não acredito que alguém duvide de que o Irã seja um país com uma forte cultura árabe, este é o caso também da Turquia, onde se fala o turco. Em segundo, eu diria que o fator comum seria a religião, mas também não podemos esquecer que em alguns países como o Líbano e a Síria há uma quantidade significativa de Cristãos, e que em algumas aldeias estes chegam a representar 100% da população. Outro fator seria a influência e origem dos povos nômades da região do Golfo Pérsico, mais conhecidos como beduínos, entretanto estes povos foram além do que o mundo considera hoje de “árabe”.
Sendo assim, eu concluo que o que realmente une esses povos são fatores culturais, principalmente a música e a dança. A música árabe, assim como os cantos dos ritos islâmicos, tiveram sua raiz e grande influência da música bizantina, cuja origem é helênica. Não há diferença entre a música clássica árabe e a música clássica grega. São os mesmos instrumentos, os mesmos ritmos, os mesmos modos. Algumas danças de roda são idênticas, sem contar a dança do ventre, que também faz parte da cultura grega (saiba mais no artigo sobre Tsifteteli, clique aqui).
Quando comparamos gregos e libaneses, as diferenças são mínimas. Temos muita coisa em comum: na culinária por exemplo, pratos como charutinho de folha de uva, kafta ou keftê, o famoso churrasco grego ou chawarma, abobrinha recheada, sopa de feijão branco, coalhada seca entre outras inúmeras iguarias, isto sem contar os doces que são praticamente os mesmos, a maioria feita a partir de nozes, pistaches, massa folhada e semolina.
Costumes como ficar com uma espécie de terço (masbarha ou coboloi) na mão para acalmar, usar um amuleto azul e cuspir contra o mau olhado, levantar as sobrancelhas para dizer não, e inclinar a cabeça para o lado p dizer sim, milhares de palavras em comum, enfim, seria infindável descrever estas semelhanças, algumas tão sutis que somente no convívio diário para percebê-las.

Para não estender muito o assunto não vou entrar no âmbito histórico que muito contribui para que existam estas semelhanças. Mas é por tudo isso que eu sempre digo que em minha opinião a Grécia pertence à Europa geograficamente (e agora com a União Européia, economicamente também), mas culturalmente eu a classificaria no Oriente Médio.

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