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14 de ago. de 2013

Dança do Ventre - A Beleza do Simples

A Dança do Ventre hoje conquistou todas as partes do mundo, e é executada por mulheres de todas as idades e etnias. Isso é maravilhoso, entretanto se quisermos ser fiéis à dança do ventre como tradição da cultura árabe precisamos tomar muito cuidado com o efeito “telefone sem fio”.

Sou uma apaixonada por esta arte e dedico muitas horas assistindo vídeos de bailarinas de diversas regiões do mundo e venho percebendo que cada vez mais esta dança tem se distanciado de sua essência. Cada vez mais a preocupação das bailarinas é em impressionar o público com sua qualidade técnica, agilidade, movimentos inusitados e beleza física. Muitas vezes observamos movimentos, passos e elementos que nunca fizeram parte da cultura árabe.


Sei que a arte não é estática, que a arte evolui, que cada bailarina pode e deve colocar a sua personalidade em sua dança. Sei que há uma grande diferença entre uma dança cênica e uma dança “feita em casa”, mas se começarmos a nos distanciar da essência da dança oriental, daí simplesmente deixa de ser...

E o que é essa essência?

Vou fazer uma analogia: A HISTÓRIA DO FEIJÃO

“Sabemos que o arroz com feijão é o prato que mais representa o povo brasileiro. Imagine então a seguinte situação:
Você aprende com sua mãe e avó como fazer o feijão. Você aprende que precisa usar o feijão carioca ou o jalo para fazer este prato típico. Aprende que é preciso deixa-lo de molho por algum tempo para poder cozinha-lo. E o principal, aprende que para temperá-lo basta sal e alho, e se quiser pode adicionar cebola e toucinho. O arroz deve ser o branco, também temperado com sal e cebola. Mas que todos estes simples ingredientes, feitos e adicionados na 
proporção e ordem certa vão proporcionar um prato de sabor maravilhoso e muito tradicional do Brasil.


Um chef de cozinha francês tem a oportunidade de experimentar esta receita, e resolve colocar no cardápio de seu restaurante na França. Mas ele acha muito simples, e na verdade, ele nem sabe muito bem todos os passos do processo pois ele só experimentou, mas adorou e quer muito fazer. Então ele compra um feijão na França que não é o carioquinha ou jalo pois lá não se encontra este tipo (isto é uma ficção, eu não sei se existe ou não Ok). Daí ele resolve incrementar o prato, ao invés do arroz branco, ele prepara um arroz tipo “a grega” e no feijão ele adiciona outros temperos, mostarda, salsinha, tomilho e pimenta rosa. Ele percebe que se deixar o feijão com caldo, a apresentação do prato não fica tão bonita, então ele deixa o feijão mais seco, e para enfeitar a iguaria e dar um toque especial ele coloca como acompanhamento cogumelos.
O prato faz um baita sucesso, o restaurante fica famoso por ter um prato brasileiro no cardápio.
Você vai morar na França e fica com saudade de comer feijão, daí as pessoas te indicam o tal restaurante. Você fica empolgadíssima, vai lá e pede o prato, e então, a decepção!! Você gostou da comida, o prato era gostoso, interessante, diferente, mas definitivamente NÃO ERA O FEIJÃO BRASILEIRO!!!”

Como você se sente? Frustrada, enganada, chateada, enfim cada pessoa vai reagir de uma forma, mas o importante é que você sabe que aquele prato não representa sua cultura nem suas tradições.

Quero apontar várias coisas neste texto:
1)      Se você não quer fazer da forma tradicional, tudo bem, só não venda seu produto como se fosse;
2)      Se você quer fazer o tradicional, se você quer aprender a essência da dança, beba da fonte,
3)      Ser simples não é ser ruim, ser simples não é fácil, ser simples tem suas qualidades, ser simples não é ser pouco,
4)      Os passos e movimentos tradicionais da dança do ventre não são muitos, mas saber coloca-los na hora certa, com a dinâmica certa, com a ginga certa é o mais importante, completamente conectada e entregue a música, aí está a grande questão. Ao invés de se dedicar um tempão para aprender o “passo da moda”, dedique-se mais em pesquisar sobre a cultura e a música oriental, mas sempre de fontes fidedignas, prefira sempre os originais, mas lembre-se, nem todo brasileiro sabe fazer feijão.

Muita gente diz que minha dança é simples, e honestamente não me ofendo com isso, pois esta é a essência da dança oriental. Eu como bailarina de dança oriental tenho que me preocupar em traduzir em meu corpo a música de forma prazerosa e de forma que o público possa entender. A impressão de ser simples se deve pelo fato de ser completamente entendível!! Você entendeu a minha dança completamente, ótimo, esta era minha intenção, é sinal que eu consegui te passar uma mensagem claramente, e com muita técnica sim, pois senão a geometria e harmonia dos meus movimentos não seriam perceptíveis.
A partir do momento que o público não consegue acompanhar o que eu faço e que eu tenho que pensar para fazer, deixou de ser dança oriental, pois quando isso acontece há uma desconexão do público e da bailarina com a música, e dança e música na cultura oriental é uma coisa única, somos um uníssono, todos os instrumentos produzem um único som, não há harmônicos na música árabe, um dos pilares da música árabe é sua forma melódica e o meu corpo deve ser esta melodia de forma plena.
Eu como bailarina devo ser a música, sou um instrumento a mais na orquestra, a música me rege, se não há mudança de frase musical, não há mudança de passos e movimentos, se não há floreios na melodia, não haverá floreios em meu corpo. Eu devo seguir a música em tudo, em suas intenções, dinâmicas, energia, e isto não quer dizer seguir cada “plin” do qanoum, isto quer dizer estar entregue totalmente deixando o som reverberar no corpo.
A música árabe é cíclica, sendo assim a dança também deve ser, ou seja, não há nada de errado em repetir o mesmo movimento se a música o solicita. Esta circularidade é o que proporciona o êxtase, o prazer, a viagem do público em seu corpo, se mudarmos de movimento a cada segundo, não se estabelece a conexão.
Foto: Flávia Pastorelli/ Bailarina: Cristina Antoniadis

A essência da dança oriental está no prazer sentido pela bailarina e compartilhado com o público, e para haver prazer é preciso que o corpo esteja relaxado e desconectado com o pensamento de querer impressionar!
Quanto mais dançamos a mesma música, mais íntima dela nos tornamos, e mais podemos explorar de forma natural suas minúcias.
Portanto, se você quer dançar com estilo realmente árabe, pense em tudo isso!! Abaixo, alguns vídeos para ilustrar e frases para refletir.

“A Simplicidade é o último grau da sofisticação” – Leonardo da Vinci

“Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho” – Clarice Lispector

“O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até o ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é, ou deveria ser, a mais elevada forma de arte.” – Charles Chaplin

“A Simplicidade é o último degrau da sabedoria.” – Khalil Gibran


Serena Ramzy

Cristina Antoniadis

Fifi Abdo

26 comentários:

  1. Belo texto, Cristina! Observo que há, realmente, uma resistência à dança simples como se ela fosse menor e repetitiva. Na cultura da impaciência em que vivemos, a preocupação está na novidade e no entretenimentos puros. É a fast food dance!!!!
    Mas, esta tal simplicidade só se consegue com dedicação e audição, pois é a música que guia a tecitura da dança!
    Abraço, Rosana

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    1. Grata Rosana pelo comentário e por complementar este artigo, bjssss

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  2. Caríssima, adorei seu texto, abraço fraterno

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  3. Crissssss, lindo!!!! Vou repassar para todas as minhas alunas e gostaria de pedir licença para colocar no sala de estudos do Hossam e da Serena, porque a filosofia deles é essa, exatamente igual a sua, a minha, a nossa!!! Fico feliz de ter uma amiga que "banca" seus princípios e procura esclarecer o que pensa e mais, o que sabe!! Um grande beijo Carol

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    1. Claro que pode!!!! inclusive coloquei o vídeo da Serena por conta disso, pois a dança dela segue bem essa filosofia!!! bjssssss

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  4. Gostei muito, Cris!!!! Adorei o texto e principalmente a analogia do arroz com feijão!!! Não só pq explica muito bem o seu ponto de vista, mas também pq o arroz com feijão é uma das delícias mais simples do povo brasileiro. Ótima analogia! bjs!

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  5. Lindo texto Cris, perfeito! Divulgarei para minhas alunas. É a nossa filosofia! Estudamos muito Hossam, e é exatamente o que ele prega. Beijos no coração!

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    1. grata Tatiane, bjsss e sucesso, unidos podemos fazer a diferença!

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  6. Cris, adorei e concordo em número e grau.

    Vc sempre deixando uma mensagem clara e direta, muito bom, adoro isso em vc. E tbm sua dança, e a da Serena e a da Fifi, sou fã desde sempre.

    bjssss

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  7. Cris, adorei o texto, e concordo em número e grau.

    Conseguiu ser clara, simples e direta, adoro isso em vc.
    E admiro sua dança e a da Serena, e a da Fifi então, sou fã desde sempre.

    Fiz o curso da Serena e do Hossam, a primeira vez que vieram juntos ministrar em Americana, e realmente é o que eles divulgam também.

    bjssss

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  8. Considerando-se que houve quem ousasse afirmar que a dança de Fifi Abdou era pobre e vulgar , e ainda hoje Dina é incompreendida por tantos, não ha mais muito para acrescentar...

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    1. quem diz uma barbaridade dessas não entende o que é a dança oriental e não merece nossa atenção. Bjsss querida

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  9. Muito bom seu texto, Cris!
    Parabéns por ser esta pessoa que não se cala e não se cansa de esclarecer a cultura em sua forma pura e plena.
    Para quem quiser criticá-la, também irão contra outros nomes de grande representatividade na dança e na música oriental, que estão citados acima. Por aí já se vê que você sabe o que está falando.
    Sucesso sempre!
    Um grande beijo

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    1. Obrigada sempre por todo o apoio linda!! Não ligo para as críticas, desde que elas tenham fundamento, estas me fazem crescer, entretanto aquele que critica o que não conhece, ou acha que conhece, não passa de um tolo.

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  10. Maravilhoso, Sensacional, Amei tudo. Parabéns ,Bjs

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. falou tudo Cris, dança oriental no Brasil e Ocidente está se tornando uma dança superficial mecânica com elementos cênicos oriundo belly E.U.A alguns até desconhecido em alguns países árabe,e pode-se notar tbm nos festivais de dança do ventre até uma diminuição do público árabe para prestigiar, com certeza eles querem ver sua tradições e a essência da sua dança na bailarina, não deve nunca perde a essência graças que poucas no ocidente ainda preserva a cultura no verdadeiro sentido que a dança oriental representa para este povo que eu amo muito,,, Adorei este seu artigo Mabrouk,,, bjsss

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  13. Oi Cris! Parabéns pelo texto... é por aí, minha amiga... infelizmente, há muita controvérsia e "pregação" de um "certo", que não deixa de ser arte, mas não é Dança Árabe...
    Já escrevi bastante sobre, participei de debates, refleti, propus, agi no que estava ao meu alcance...
    Mas, impérios continuam sobrevivendo da ilusão que vendem, pq há muitas que preferem "comprar" pela "casca", ao invés de se propor à pesquisar pra poder discernir.


    Dois momentos fundamentais do texto:

    1- Isto é fato e, infelizmente, o povo enfeita demais e se entrega de menos:
    "Os passos e movimentos tradicionais da dança do ventre não são muitos, mas saber coloca-los na hora certa, com a dinâmica certa, com a ginga certa é o mais importante, completamente conectada e entregue a música, aí está a grande questão. Ao invés de se dedicar um tempão para aprender o “passo da moda”, dedique-se mais em pesquisar sobre a cultura e a música oriental, mas sempre de fontes fidedignas, prefira sempre os originais, mas lembre-se, nem todo brasileiro sabe fazer feijão."

    2- Isto eu ouvi e presenciei qdo estive no Marrocos e Egito. Perguntei e eles me disseram isto... então ... é FATÍSSIMO!
    "A música árabe é cíclica, sendo assim a dança também deve ser, ou seja, não há nada de errado em repetir o mesmo movimento se a música o solicita. Esta circularidade é o que proporciona o êxtase, o prazer, a viagem do público em seu corpo, se mudarmos de movimento a cada segundo, não se estabelece a conexão."

    O que resta, agora, é cada uma de nós seguir por essas sendas em parceria com o público e de mãos dadas com esta linda dança que traz processos infinitos de cura e auto-conhecimento :-)

    É um dos caminhos mais lindos quando se está em busca do resgate do feminino :-)
    Satisfação ler este texto e cada vez mais me dedicar para fazer parte desse rol de dançarinas (bailarinas, como queiram) que primam pela rica simplicidade ;-)

    Bjos infinitos, Luz sempre e até breve Cris
    Mi Nurhan

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  14. Oi Cris! Parabéns pelo texto... é por aí, minha amiga... infelizmente, há muita controvérsia e "pregação" de um "certo", que não deixa de ser arte, mas não é Dança Árabe...
    Já escrevi bastante sobre, participei de debates, refleti, propus, agi no que estava ao meu alcance...
    Mas, impérios continuam sobrevivendo da ilusão que vendem, pq há muitas que preferem "comprar" pela "casca", ao invés de se propor à pesquisar pra poder discernir.

    Dois momentos fundamentais do texto:

    1- Isto é fato e, infelizmente, o povo enfeita demais e se entrega de menos:
    "Os passos e movimentos tradicionais da dança do ventre não são muitos, mas saber coloca-los na hora certa, com a dinâmica certa, com a ginga certa é o mais importante, completamente conectada e entregue a música, aí está a grande questão. Ao invés de se dedicar um tempão para aprender o “passo da moda”, dedique-se mais em pesquisar sobre a cultura e a música oriental, mas sempre de fontes fidedignas, prefira sempre os originais, mas lembre-se, nem todo brasileiro sabe fazer feijão."

    2- Isto eu ouvi e presenciei qdo estive no Marrocos e Egito. Perguntei e eles me disseram isto... então ... é FATÍSSIMO!:
    "A música árabe é cíclica, sendo assim a dança também deve ser, ou seja, não há nada de errado em repetir o mesmo movimento se a música o solicita. Esta circularidade é o que proporciona o êxtase, o prazer, a viagem do público em seu corpo, se mudarmos de movimento a cada segundo, não se estabelece a conexão."

    O que resta, agora, é cada uma de nós seguir por essas sendas em parceria com o público e de mãos dadas com esta linda dança que traz processos infinitos de cura e auto-conhecimento

    É um dos caminhos mais lindos quando se está em busca do resgate do feminino
    Satisfação ler este texto e cada vez mais me dedicar para fazer parte desse rol de dançarinas (bailarinas, como queiram) que primam pela rica simplicidade

    Bjos infinitos, Luz sempre e até breve Cristina Antoniadis

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  15. Perfeito Cris! Adorei! Parabéns! Estou compartilhando agora com minhas alunas e agradeço pelo texto! Compartilho muitíssimo da sua opinião. Bjos linda!!! Admiro muito seu trabalho!

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