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Bem vindo ao meu espaço de divulgação da minha arte e também da minha vivência como ser humano criativo!!! Aqui vocês encontrarão não só u...

9 de ago. de 2014

Improviso na Dança Vicia!! Até num derbak!

Hoje vou compartilhar com vocês um pouco da minha vivência na dança!

Quando comecei a dançar eu achava inconcebível dançar de improviso, achava que não fica perfeito e que se perdia muita coisa na música, daí os anos foram passando e comecei a perceber que o improviso tb tem suas vantagens, e acho que a dança mais espontânea e de acordo com o que estamos sentindo naquele momento é a maior delas. 
foto: Thiemi Ota


Há uns 3 anos resolvi que queria aprender a improvisar de verdade e então comecei a praticar o improviso e comecei a viciar nesta forma de dançar, mas dançar um derbak de improviso pra mim ainda era demais.


Escolhi um derbak para minha apresentação no Sarau Oriente-se do Pandora Danças, que ocorreu no dia 02/08/2014, estudei muuuito a música e coreografei até a metade pois a semana foi muito puxada, dei uma boa ensaiada nesta metade e não tive tempo de coreografar a parte que o derbak "cresce", mas ouvi muito e marquei mentalmente algumas partes. 


Daí descobri algo inédito pra mim, improviso vicia. Entrei pra dançar e já nos primeiros 25seg da música fiz tudo diferente do que eu tinha ensaiado, quando percebi fiquei meio apreensiva (pra mim é nítido aos 30seg do vídeo a minha tensão) e foi então que após 5seg apertei a tecla "foda-se" e segui em frente, terminei a dança sem lembrar quase nada do que eu tinha feito, com as pessoas empolgadíssimas e elogiando muito a dança, e para a minha surpresa quando assisti o vídeo eu achei que ficou muito melhor do que eu tinha coreografado, muito mais solto, mais gostoso, mais dinâmico. Menos perfeito sim, mas muito mais intenso e verdadeiro!!! Enfim, fica a dica!! 

Segue o vídeo da dança, espero que gostem!!



14 de jul. de 2014

Ser Artista

O que é ser artista? Eis uma pergunta que vem me atormentando já há algum tempo! Principalmente no campo da dança oriental! Afinal, será que toda bailarina de dança oriental é artista? Ou será que algumas são artistas e outras são apenas executantes...

Atacada por uma rinite sem fim, ontem resolvi me deitar mais cedo e fuçar nos milhões de canais que temos disponíveis, e “para variar”, filmes repetidos de super heróis americanos e filmes de terror juvenil inundavam a programação. Então, sentada com a cabeça erguida por muitos travesseiros para poder respirar atiço meu controle remoto para o fim dos meus canais a cabo, para um canal chamado CURTA, ao qual sempre recorro e indico a programação. E apesar de não querer assistir nada muito denso pois o meu nariz e mal estar tiravam completamente minha concentração (por isso recorri primeiro aos canais de filmes, em vão), me deparei com um maravilhoso documentário sobre Manoel de Barros (coloquei o documentário na íntegra no final do post, vale muito a pena assistir)

Manoel de Barros, falei alto e indaguei a mim mesma, este nome não me é estranho....
E me lembrei de que este nome pertencia ao hall de leituras obrigatórias na minha época do colegial, o tal do ensino médio atual.

Manoel de Barros é um poeta brasileiríssimo, de uma originalidade ímpar e que retrata maravilhosamente bem o que é o Brasil.

“...tudo o que eu não invento, é falso...”

Encantada com sua entrevista, com os relatos das pessoas sobre ele, e com trechos citados de suas poesias, comecei a me questionar porque este grande artista não me marcou anteriormente, lá atrás, na minha adolescência quando tive acesso às suas obras!

Será que eu é quem não tinha maturidade ou bagagem suficiente para compreender a profundidade de suas palavras ou será que o ensino não soube me mostrar isso de forma que um adolescente achasse interessante? Para falar a verdade, nem lembro se li a obra deste poeta, pois não li vários dos livros obrigatórios, simplesmente li resumos de apostilas de cursinhos, “contrabandeadas” entre os colegas, com o único objetivo de decorar o que iria cair no vestibular!!!

Pois é, quantidade definitivamente não é qualidade, preferia ter lido uma só obra mas que esta tivesse ficado para sempre impressa em mim e que eu pudesse lê-la repetidas vezes. E assim, fiz a analogia, EURECA, ou melhor, em grego mesmo, ÊVRIKA, ou em português, ACHEI!!! Ao ler a frase deste maravilhoso poeta, constatei também que na arte precisamos improvisar e criar sempre, e para isto precisamos repetir os mesmos processos, e como disse o poeta:

“repetir, repetir e repetir... até sair diferente”

E assim concluí o que eu já sabia, tem algo de muito errado com o sistema de ensino...

Uma das coisas que mais me chamou atenção na entrevista foi a simplicidade deste poeta, certo momento ele disse, não me lembro das palavras exatas, mas foi a forma que eu guardei:
“A poesia não é para ser entendida, é para ser incorporada, se eu quisesse que fosse entendida de forma racional, seria prosa e não poesia”

Assim vejo também a dança, e todas as artes. E daí me lembrei das aulas de literatura, os professores fazendo a gente ler um monte de poesias e decifrá-las como enigmas, interpretá-las e etc... o que será que o autor quis dizer com isso?... Quanta besteira, não era melhor ler e absorver, de forma interna, deixar mexer e pronto!!!!

E então cheguei a mais uma conclusão. Não somos ensinados para “entender” a arte, ou melhor, absorver a arte.

"A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios."

Esses seccionamentos e encaixotamentos tão presentes no nosso mundo atual são tão ante arte que parecem até que não somos humanos!

Hoje na dança vejo muito este movimento de secção, de querer entender, explicar o que se dança, tudo precisa ter um roteiro lógico. A técnica tem que ser perfeita, a estética tem que ser perfeita, a representação tem que ser perfeita. Mas e seu eu sentir diferente, será que está errado? Como é que alguém pode julgar o que eu sinto?

Manoel de Barros não se importa de escrever “errado”, achei lindo quando ele falou sobre a fala das crianças, que dizem coisas sem sentindo mas que entendemos completamente e que querem dizer muito além.
...Pegar o vento...nadar no rio e ficar todo molhado de peixe... borboleta é cor que voa...sou da invencionática...
(que saco...o corretor ortográfico grifou de vermelho a última palavra, e quer alterar para invencionice, affff)

“Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.”

Manoel de Barros relatou que sempre achou que via as coisas de forma diferente da maioria das pessoas, que via tudo meio que invertido, e que não se acha muito normal. Acredito que todo artista se sente assim, mas será que nós é que não somos normais? Afinal, o que é ser normal? Na verdade, tenho a plena convicção que o artista de verdade é sim uma alma inquieta, enxerga o mundo de forma diferente, sente as coisas com mais intensidade, mas porque às vê da forma que elas realmente são!

“É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.”

Observo no meio da dança oriental bailarinas lindas e perfeitas, excelentes executantes de movimentos com figurinos caros e impecáveis, enchem os olhos daqueles que às prestigiam, mas será que isto é arte?
Será que só a perfeição é bela? Se assim fosse um quadrado seria sempre mais belo que um triângulo escaleno (aquele que possui lados e ângulos desiguais)

“... a importância de uma coisa não se mede com fita métrica, balanças ou barômetros. Que a importância de uma coisa seja medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.”

Mas afinal, o que é ser artista?

Se você achou que eu ia te responder com uma fórmula pronta o que é ser artista, é porque não entendeu nada!!!

“... entender é para parede, procure ser árvore.”


Documentário - Manoel de Barros - "Só dez por cento é mentira"


7 de mai. de 2014

Aula de Música - Ritmos, Instrumentos e Estilos

Atendendo a pedidos, principalmente de estudantes das danças árabes que moram muito longe de São Paulo o que dificulta o acesso à cursos presenciais, de tempos em tempos vou escolher uma música para estudá-la juntamente com vocês.

Neste post escolhi uma das minhas últimas apresentações por 2 razões. A primeira é porque a música escolhida é uma interpretação do músico Abboud Abdel Aal, que faz parte do álbum Arabian Nights. Este músico, apesar de pouco conhecido entre as bailarinas, tem interpretações lindíssimas de músicas conhecidas e também é excelente na execução de taqsins, particularmente as de violino e de acordeon. A outra razão, é porque esta música, além de muito tradicional, tem uma riqueza sonora e rítmica interessantes.


Eu diria que este é um estilo de música ideal para a dança oriental, pois proporciona a entrega, a brincadeira, a instrospecção, a troca com o público e um repertório variado de movimentos, especialmente os de quadril.

Ela inicia com uma taqsim de violino (improviso melódico oriental), com base rítmica em wahda chifteteli
DUM-TAK-TAK/DUM-TAK-

A taqsim dura até 1min30seg. E então se inicia uma música chamada "Hizzi ya Nawaem" (o requebrar da donzela). Esta música é composição do famoso Farid Atrash, foi composta para dança oriental e apesar do compositor ser egípcio, esta canção faz menção à um estilo de folclore mais libanês. No vídeo acima o ritmo de base é o maksoum, a instrumentação é basicamente violino e aos 2mim20seg uma nay faz uma pequena frase.
No final da postagem, coloquei o vídeo da canção que foi interpretada originalmente por Issam Rajji, cantor libanês, e a bailarina Nadia Gamal, que também fez muito sucesso no Líbano, talvez por isso a escolha desta música neste filme.
MAKSOUM: DUM TAK-TAK DUM-TAK-

Aos 3min08seg, inicia uma taqsim de acordeon no estilo baladi, aos 3min57min percebemos a típica brincadeira entre acordeon e derbak muito comum neste estilo musical, aos 4min25seg, entra a base rítmica em masmoud saghir (vulgo baladi) e o acordeon continua sua improvisação melódica e aos 5min16seg percebemos a evolução do ritmo para o fallahie.
MASMOUD SAGHIR: DUM DUM-TAK DUM-TAK-

Aos 6h12seg inicia um solo percussivo com o ritmo laff /malfouf em estilo da dança hagalla (3 compassos com uma variação no quarto) e depois percebemos as brincadeiras típicas de um solo percussivo para dança e aos 6min45seg temos novamente o maksoum como base rítmica até que acelera e finaliza em um "rush" (rrrrrrrrrrrrrrrr).
LAFF: DUM-TAK-TAK

Espero ter ajudado, bons estudos!!!!! Aproveito para convidar para o próximo curso que darei em SP, um intensivo em RITMOS muito rico e preparado com todo o carinho!

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CURSO ESPECIAL - SEGUNDO SEMESTRE 2019 - VAGAS LIMITADAS


Música - Hizzi ya Nawaem
Issam Rajji e Nadia Gamal

28 de abr. de 2014

Música - Nebtidi Mnain El Hikaya

Toda estudante e bailarina de dança oriental que tem um comprometimento real com esta arte sabe o quanto estudar a música árabe é essencial para o estudo desta dança.

Gosto sempre de dizer que a dança na cultura oriental integra a música, não é algo a parte, são artes complementares e que toda bailarina de dança oriental deve dançar em uníssono com a música, deve fazer parte da orquestra, seria a materialização do som.

Sendo assim, é essencial quando escolhemos uma música cantada saber sobre a letra da música. Entender a poesia do canto nos permite uma entrega maior da alma e uma segurança que nos proporciona liberdade de expressão.

Quando escolhi a música Nebtidi Mnain El Hikaya para dançar no 4º aniversário do Pandora Danças, dia 01/02/2014, tinha uma certa noção do que a música dizia, mas minha escolha foi mais baseada pela sua beleza melódica e por ser uma música que me toca bastante. Existe uma versão grega para esta música chamada "Ta Mavra Matia Sou" (Seus Olhos Negros), que ouço desde muito pequena, mas depois descobri que a original era árabe, interpretada pelo famoso cantor egípcio Abdo Halim Hafez, e muito mais linda e completa (sou grega fanática, mas não sou sem noção, kkkk).

Então fui atrás do que o poema da música dizia, e me surpreendi com a beleza do seu significado e com o tanto que aquele significado simbolizava para mim e representava a minha relação e história com a dança. Me emocione muito, e então optei em não ensaiar a dança, apenas ouvir muito a música, passando a letra várias vezes até que ela fizesse parte de mim, e assim fui eu finalizar a festa de aniversário da minha escola, com uma sensação de plenitude e conquista em meu coração.

Minha Dança - https://www.youtube.com/watch?v=OnFNvYP06ZM

Segue a letra da música, em árabe para vcs acompanharem o cantor, e também sua tradução, pela qual devo agradecer imensamente ao meu marido e músico Sami Bordokan que me auxiliou.
Posto também o vídeo da versão original da música. Embriaguem-se e orientem-se!!!!

NEBTIDI MNAIN EL HIKAYA - LETRA E TRADUÇÃO
Onde Começa a História

Laou Hakina, ya habib, nebtidi mnain el hikaya...
Se falássemos, meu amor, por onde começa a nossa história...

Nahna i´ssat hobina, hobina, leeha aktar min bidaya
o nosso amor, nosso amor, tem mais que um começo

Aishna feeha yama aishna, yama aishna
vivemos nela, quando a vivemos
Shoufna feeha yama shoufna, yama shoufna
e enxergamos nela o quanto enxergamos

Lakein misheena u kammena wishwar el hob us´sina
no entanto caminhamos pela estrada do amor e chegamos

Id dounia ma edert taanitna witfar´a beina wit baid´na
o mundo não conseguiu nos contrariar e nem nos separar

Taala, taala, taala win ul i dunia, ana u inta, izzai idirna
venha, venha, venha, e diremos ao mundo, eu e você, como conseguimos

Ni baid an aei azeb, wi naish alla tul ahbeb
nos distanciamos de qualquer sofrimento, e seguimos vivendo para sempre como amantes

Nahdum farhetna, farhetna, farhetna sawa
vamos assegurar nossa felicidade
win khale el hob shabbab
e manter nosso amor sempre jovem



Até mais!!!