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O dabke é uma dança
folclórica muito popular na região do Levante no Oriente Médio.
"De uma forma
geral, a região se resume à Síria, à Jordânia, a Israel, à Palestina, ao Líbano
e a Chipre. Outras fontes definem o Levante de uma maneira mais ampla,
incluindo porções da Turquia, do Iraque, da Arábia Saudita e do Egito."
(Wikipédia)
obs: a região do
Egito acima referida é a porção asiática denominada Sinai.
região em verde escuro é o que se denomina Levante mediterrâneo - fonte Wikipédia |
A origem do dabke é
muito remota e até os dias atuais encontramos diversas danças muito similares
em regiões próximas ao levante e que não são de língua árabe como a Turquia,
Armênia, Grécia, Bulgária e Chipre.
Essa similaridade
provavelmente se justifica pela influência dos povos chamados
"pondios" (povos helênicos de provável origem fenícia que se fixaram
e colonizaram toda região que fica em torno do Mar Negro e parte do Mar Cáspio
no século VII ac.). Estes povos, de essência guerreira e famosos pelas suas
habilidades com os metais, sofreram com diversas invasões e muitos foram
obrigados a deixar seus lares e se dissiparam pelo oriente ao longo de mais de
um milênio levando consigo suas tradições e se incorporando a outros povos e
regiões assim como absorvendo as tradições dos locais para onde migraram.
Infelizmente há muito pouca literatura a respeito destes povos e ainda não
consegui achar mais informações de como estes povos se miscigenaram com outros em
suas diásporas e como foram as trocas culturais que ocorreram desde então mas
seria um pensamento muito limitante achar que estes fatos ocorreram de forma
linear, isolada e sem diferenças regionais.
Pondios - pintura antiga |
O que temos de fato
são os descendentes dos Pondios, que na atualidade em sua maioria habitam a
região de Tessaloniki/Macedônia - GR e que mantiveram suas raízes culturais,
danças e tradições até os dias atuais e encontramos uma dança muito antiga em
seus costumes que é extremamente similar ao dabke tanto na linguagem corporal,
como na musicalidade e inclusive nos trajes. Como a origem étnica dos pondios
ainda é uma lacuna e uma das teorias é que sejam de origem dos ditos “povos do
mar” pelos antigos, e estes “povos do mar” muito provavelmente seriam os fenícios,
que são os povos que deram origem ao Líbano, fica realmente muito difícil
determinar de onde ou de quem realmente vem essa linguagem corporal, o que
podemos realmente determinar é que ela existe, é muito antiga e está presente
em uma extensa região.
Já a dança dabke
propriamente dita é encontrada e praticada na atualidade em toda a região do
levante e hoje é considerada a dança nacional do Líbano, Síria e Palestina
principalmente. A teoria mais aceita é a de que é uma dança que veio do
agrupamento dos homens das aldeias libanesas para preencher com barro as
rachaduras dos telhados das casas ocasionadas pela grande seca que acontece no
verão e assim evitar a infiltração de água no período de chuvas. Para amenizar
o árduo trabalho cantavam e dançavam (com uma linguagem corporal já
estabelecida em seus corpos anteriormente) ao ritmo das músicas enquanto batiam
os pés para fixar o barro nas rachaduras. A própria palavra dabke significa
bater o pé no chão, sapatear.
Um detalhe que não
podemos esquecer quando se trata dos folclores do Oriente Médio é a grande
influência das tribos beduínas de cada região, e com o dabke não é diferente, é
uma dança e estilo musical que carrega consigo características próprias das
danças beduínas como o uso da “zarghouta” (lilili) e de alguns trejeitos como
as palmas com os dedos abertos.
Caracala - Grupo Folclórico Libanês |
O dabke é
originariamente masculino, grupal, com formação de semi círculo na qual a roda
gira em sentido anti horário, é praticado de mãos entrelaçadas ou apoiadas nos
ombros, e a ponta que “puxa” a roda é o líder ou dançarino mais habilidoso
podendo ser ou não revezada por outros dançarinos que também possuam pleno
domínio da dança. Em muitas aldeias quem lidera a ponta da roda é o ancião da
comunidade e a ele cabe ao longo da dança ceder o lugar para os seus
sucessores.
Nos dias atuais o
dabke é dançado também por mulheres e cada vez mais tem se tornado uma dança de
identidade cultural dos libaneses e palestinos sendo frequentemente praticada
em atos políticos e patrióticos.
Dabke de Baalbeck - selo libanês |
Neste artigo o meu
foco foi descrever um pouco das possíveis origens desta dança tão popular e
contagiante, mas muitos detalhes ainda podem ser abordados quando o assunto é
dabke: a diferença do dabke tradicional para o dabke de palco, como levar para
o palco sem descaracterizar, como são as músicas, quais os principais
intérpretes e compositores deste estilo, como são os trajes, quais as
diferenças regionais, quais os ritmos e tipos de passos... enfim, o assunto é
bem extenso e requer um carinho especial, portanto prefiro deixar estes tópicos
para abordar com detalhes numa próxima oportunidade.
Cabe dizer que todas
as informações que coloquei aqui fazem parte de uma pesquisa pessoal de mais de
20 anos resultante de vivência em grupos folclóricos helênicos e de dabke
(JOB), cursos e workshops com a mestra em cultura árabe pela USP, Márcia Dib,
minha convivência pessoal de mais de 15 anos no seio de uma família tradicional
libanesa a qual meu marido, músico árabe Sami Bordokan pertence, assim como
aulas de música, ritmos e muitas conversas sobre o assunto com ele. Conversas,
aulas e consultoria com o renomado ator, diretor cultural e coreógrafo libanês
Mounir Maasri com o qual tive a honra de conhecer e trabalhar na minissérie “2
Irmãos” de Luis Fernando de Carvalho/Rede Globo, e muita dedicação e bunda na
cadeira lendo, assistindo vídeos, documentários e fuçando cada detalhe,
portanto, pode confiar que as informações são quentes kkkkk.
Eu e Mounir Maasri - cena do casamento na minissérie "2 irmãos" baseada na obra de Milton Hatoun |
Para saber mais sobre
o dabke não deixe de assistir este vídeo no meu canal do YouTube. Aproveite
para se INSCREVER, por lá eu posto bastante vídeo legal e assim você não perde
nenhum detalhe!!
Até mais!!!